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Minha pequena florzinha - 14 O início do fim

Minha pequena florzinha - 14 O início do fim.Distância, talvez esse tenha sido nosso maior problema. O engraçado é que não comento sobre distância física, mas sentimental, pelo menos era o que sentia nesse momento, uma enorme distância sentimental. Por mais que a florzinha estivesse a meu lado, muitas vezes ela parecia muito distante, mas realmente distante. Os finais de semana já não eram mais os mesmos, tudo que eu precisava era ouví-la dizer algo, qualquer coisa que fosse, mas eram raros os momentos em que parávamos para conversar.
Era algo estranho, porque conversávamos bem pelo msn ou telefone, mas pessoalmente parecia que não haviam mais assuntos a serem conversados mas mesmo falando de vez em quando por telefone, ainda haviam muitas coisas a serem discutidas ou mesmo contadas, mas o silêncio muitas vezes nos atormentava. Até mesmo seus beijos mudaram, ficaram frios, houve uma explicação não tão aceitável, talvez até certo ponto. Compreensão, era tudo que me pedia, que entendesse certas coisas, mas coisas simples como um beijo não poderiam ser negadas. Por mais que a castidade fosse algo extremamente visado em nosso caso, era possível nos beijarmos como dois namorados normais, afinal de contas, pela teoria nós éramos isso até pouco tempo atrás. Diversas coisas mudaram nesses últimos tempos, diversas coisas sumiram, de repente, sem deixar vestígio ou explicação. Questiono, questiono e questiono e ouço sempre a mesma resposta, de que não há nada de errado, que nada aconteceu, que nada mudou.
Depois de um certo tempo as coisas melhoraram um pouco, estávamos felizes, pelo menos era isso que sentia dela, não aquela felicidade transbordando como no início, não aqueles olhos sorrindo para mim. Ah, há muito não via aquele sorriso em seu olhar, talvez a distância física, minha ausência nos dias da semana a fizessem ficar triste e mesmo os dias em que passávamos juntos não eram tão reconfortantes assim. Sentia que realmente faltava algo, pensei diversas vezes ter mudado algo que não devia, que estava deixando de fazer o básico, mas nunca encontrava meu problema. Aproveitava todos os momentos em que estávamos felizes, os fazia durar por toda uma eternidade ou o quanto fosse possível, afinal de contas, não nos víamos por muito tempo para transformarmos nossos poucos momentos em um mar de torturas. Mas estava triste com algumas mudanças, coisas que prefiro nem ao menos comentar, coisas que me atordoam mas que provavelmente passarão.
Tivemos um final de semana em que quase não nos vimos por causa de algumas coisas da igreja, um outro final de semana que houveram outros eventos e ela sempre participava de tudo. Em diversos momentos tinha a sensação de que ocupavam o tempo dela para que não tivesse tempo comigo, talvez seja besteira, coisa de minha cabeça, mas em diversos momentos tive essa sensação. A parte engraçada é que se houvesse 3 noites com algo da igreja, por mais que fosse a mesma coisa, ela não faltava, não havia um equilíbrio, aquelas coisas que casais normais fazem, tipo haverão dois shows de minha banda favorita e eu decido que irei nos dois dias, naqueles únicos dois dias que tenho para vê-la. Nunca fui um cara muito sensato em alguns casos, mas sempre ponderei que ninguém namora pra ficar sozinho e acharia justo ir em um dia e ficar com a namorada no segundo ou vice-versa. No meu relacionamento isso não existia, eu não marcava nada de sexta a domingo porque a minha única intenção era ficar com a florzinha, não pensava em nada além dela, mesmo que tivesse algum trabalho importante a fazer, não aceitava, pedia para que não marcassem nada de finais de semana por causa dela.
Claro que não chamarei isso de ingratidão, de injustiça, afinal de contas, quando a conheci já sabia que isso poderia chegar a essa situação. Já sabia que ela fazia parte da igreja, que estava apenas dando um tempo por causa de algumas complicações, mas eu não tinha nenhuma noção de como seria de fato ela frequentar a igreja. Talvez eu não tenha ficado com medo no início imaginando que fosse algo semelhante a igreja católica que um dia frequentei mas com o passar do tempo descobri que é totalmente diferente. Muitas vezes tinha a sensação que se ela faltasse em algum evento, poderia ir para o inferno, que seria castigada, que levaria seiscentas e sessenta e seis chibatadas. Exagero? Talvez, mas era exatamente essa sensação que me passava quando eu torcia minha boca quando ela me dizia que teria algo na igreja que não fossem os cultos básicos de domingo de noite.
Quando era somente domingo à noite, era fácil sobreviver no máximo duas horas sem ela, sempre assistia um filme na noite de domingo por essa razão, queimava o tempo vendo filme para não ver as horas passaram, para não levar uma eternidade até seu retorno. Mas quando começou a ter escola dominical no domingo de manhã, o mundo meio que veio abaixo, não que tenha ficado puto mas fiquei desconsolado. Só com o culto na noite de domingo, eu já a perdia a partir das 16h, mais ou menos, porque ela começava a se aprontar para saírem pouco antes das 19h que era o horário do culto. Quando ela voltou a fazer coisas no domingo de manhã, o domingo praticamente acabou, era poucas horas em que ficávamos juntos, praticamente o dia era morto por causa da igreja. Os piores momentos foram quando começaram a acontecer diversos eventos de sábado também, na igreja sede, aí era praticamente o fim do mundo...
Mas resisti durante quase 2 meses, lutei, esperei, tive realmente uma paciência de chinês para suportar algumas coisas. Fiquei muito triste em diversas noites, chorei, quem diria que um dia poderia chorar pela ausência de alguém? Aquela coisa que nunca quis na vida, me preocupar demais com alguém, querer passar cada segundo do dia com esse alguém, eu sentia tudo isso por ela, minha única vontade e o único e maior motivo de nossas brigas, era querer passar mais tempo com ela. O que normalmente é o papel da mulher nos relacionamentos, era interpretado por mim, sim, por mais incrível que possa parecer. Sempre ouvia pedidos de compreensão, que entendesse ou simplesmente ouvia que já sabia que seria assim. Em diversos momentos lembrei de uma ex-namorada, exatamente a que antecedeu a florzinha, que me disse que um dia me apaixonaria pra valer e que sofreria muito nas mãos dessa pessoa. Não esqueço isso até hoje, pensava muito nisso nesses momentos de solidão.
A solidão sentida quando se tem um amor correspondido talvez seja pior que a solidão da perda, do amor não correspondido, porque não sentimos tanta falta daquilo que não temos. Na realidade, são coisas totalmente diferentes, é mais fácil suportar o desejo por alguém quando não podemos ficar com esse alguém, porque esse alguém não quer nada conosco. Acho muito mais doloroso ter conquistado a pessoa amada e continuar sentindo-se solitário, sentindo que não tem a pessoa amada, sentindo como se estivesse sozinho. É engraçado, nunca havia sentido tal coisa, nunca me senti tão abandonado como nesses momentos em que ela partia para igreja. Mas por que raios eu deveria me sentir assim? Ela não partiu para o Japão ou qualquer outro país, ela foi até ali e logo voltará, apesar desse logo ser um pouco longo. Mas ela voltaria, ao fim do dia, como em diversos outros dias. Às vezes disposta a ficar comigo, algumas vezes cansada e apenas com vontade de deitar em sua cama para dormir, mas ela sempre voltava...
Próximo episódio - 15 A decisão.
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