O vento cada vez mais forte toma conta da noite fria seguida da leve chuva que molha levemente meu semblante de cheio de ódio. Meu corpo estremece, vibra impulsivamente, sem controle algum, totalmente sem forças. Meus braço se enrijecem, com fúria e uma força descomunal, nem mesmo consigo sentir dor ao forçar espontâneamente cada músculo. Minhas costas estalam emitindo um som que posso ouvir claramente como se fosse uma música tocada no último volume, até mesmo os ossos de meu peitoral se estalam, causando uma enorme dor que não é sentida por causa do ódio que consome todos meus pensamentos.
Sinto meu punho se fechar, calmamente, sem ao menos eu pensar no movimento. Simplesmente quando percebo, já aplico tanta força para fechá-los que seria capaz de esmagar uma pedra. Meu olho direito começa a trepidar, palpitar, de repente noto que minha visão está turva, isso atrapalha meu sermão do dia. Uma parte de meu cérebro diz ao meu corpo que é preciso parar, mas uma outra parte, talvez a que foi consumida pelo ódio doentio não permite que tal ato seja conduzido. Minha boca não para em nenhum instante, cada sílaba despejada é feita com muito rancor, com força e firmeza. As ideias começam a ficar confusas em minha mente, mas não perco o foco, continuo atacando como um fuzileiro que quer ganhar a guerra.
Dou o último trago, apago o cigarro, minha mente se esvazia vagarosamente. Sinto o pesar de minhas costas se afastando. Sinto o palpitar de meu olho direito diminuir lentamente. Sinto até mesmo a circulação sanguínea voltando ao seu estado normal. Meus músculos relaxam, meus punhos se abrem, mas o ódio ainda vigora em um canto mais profundo de meu cérebro, agora um pouco mais contido, mas ele ainda vive. Minha respiração volta a ser compassada, meus batimentos cardíacos também. Já não sinto os músculos de minha perna fazendo força extrema, consigo relaxar minha panturrilha, consigo me mover novamente. Sinto em direção a entrada, me volto a minha cadeira e sento. Levo as mãos para meu rosto, tento descontraí-lo, tirar um pouco o semblante cheio de ódio. Tento apagar a palavra morte de minha mente, respiro fundo novamente. Levanto para pegar um café, dou o primeiro gole que parece enroscar em minha garganta, tento me concentrar no que preciso fazer e esquecer de todos que estão a minha volta.
Sinto uma enorme vontade de pegar meu monitor e arremessá-los contra a parede, desisto. Meus olhos se voltam para meu teclado, as letras se embaralham, dançam como se estivessem em uma apresentação de ballet. A cabeça gira e dói ao mesmo tempo em que ouço "burburinhos" ecoarem por toda empresa. De repente, uma gargalhada um pouco mais alta me tira da concentração e me faz voltar ao mundo real.
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