VLOG

Sai desse computador menino

Acho engraçado quando ouço frases do tipo:

"Minha mãe reclama que passo muito tempo no computador..."

"Meu pai vive dizendo que preciso fazer algo além de varar noites no computador."

"Minha mãe ontem não me deixou usar o computador porque acha que estou perdendo o conceito de família."

Reclamo de diversas coisas da minha mãe, mas em relação a qualquer coisa que fiz na vida, não tenho do que reclamar, porque nem ela e nem meu pai, foram do tipo que reclamavam que eu fazia algo por muito tempo. Aliás, era totalmente o contrário, minha reclamava que eu começava as coisas e abandonava. Acredito que seja por isso que quando comecei a tocar, ela não ficava reclamando que eu devia estudar ao invés de ficar tocando o dia inteiro, claro que ela não tinha motivos para isso. Mas percebia que muitas mães da época pegavam no pé de seus filhos quando o garoto resolvia se dedicar verdadeiramente a algo.
Agora, fico imaginando se, quando era mais moleque, tivesse começado a me aventurar na área de informática como eu queria. Se meus pais tivessem condições, eu teria começado a mexer com computadores com meus 7 anos de idade, não sei se foi falta de grana ou se foi porque eles acharam que ainda não tinha idade para ter um, mas nunca tive um computador até atingir meus 21 anos.
Era engraçado, eu mexia nos computadores dos amigos, digitava longos textos para várias pessoas, mas nunca tive um brinquedo desses em casa. Aprendi um pouco de Windows na época do 3.11, aprendi sobre o gerenciador de arquivos, pouca coisa sobre o Word e nem fazia idéia do mundo que era aquilo. Pouco tempo depois, quando trabalhei com uma amiga na agência de turismo da mãe dela, aprendi a muito sobre Windows fuçando, porque até então eu era um mero digitador, inclusive fui contratado porque sabia fazer as coisas no Word e era um excelente digitador.
Depois de trabalhar menos de 1 mês com essa amiga, uma pessoa que considero praticamente como um pai, me indicou para trabalhar no Detran, como terceirizado, virei digitador e por lá fiquei durante 4 anos. Nesses 4 anos, aprendi muito mexendo em Windows 3.11, porque era o que tinha por lá, depois de algum tempo, disponibilizaram uma versão do Windows 95. É engraçado, porque até hoje não lembro como eu conseguia resolver várias coisas no Windows para meus amigos, sendo que eu mal sabia das coisas, mas sempre me virei.
Depois de alguns anos, fiz um técnico para formados, estudei durante 1 ano e meio a parte técnica de processamento de dados, na primeira semana quase desisti depois de ter minha primeira aula de lógica. Não conseguia compreender como aquilo seria até a hora que me jogaram para programar no laboratório, mal havia entendido a parte teórica e já ia começar na prática. Depois do meu primeiro "if", fodeu tudo, vi que era realmente aquilo que queria fazer para o resto da vida, ainda em uma telinha preta com letras em branco, numa linguagem denominada Clipper. Em seguida, conheci o famoso Pascal, outra telinha preta, porém era mais complexo que o Clipper e ele me instigou bastante.
Quando conheci a primeira linguagem visual, que foi o Visual Basic, já estava muito focado a programação, no técnico eu era o caçador de bugs dos exercícios que fazíamos. Me destacava porque eu tentava comer aquilo como se fosse o melhor doce do mundo e como não tinha computador, sempre que podia estava na casa de alguém, com um disquete nas mãos, para fazer algum exercício bobo em Pascal. Como o Pascal era meio "idiota", alguns erros eram exibidos em outras linhas, eu lia o exercícios de praticamente todos da sala para conseguir entender o que o cara quis fazer e depois tentar entender onde estava o problema. E conseguia resolver todos, um a um.
Tinha um outro cara que estava no mesmo patamar e aprendi muita coisa com ele também, porque eu também errava de vez em quando e não conseguia encontrar algum erro. Ou muitas vezes ele melhorava a lógica de alguns dos exercícios. Assim que consegui meu primeiro computador, não dormia mais, mal tinha tempo para dormir, se bem que sempre dormi pouco na vida e estou vendo os resultados agora. Ficava no meu quarto, todo o tempo possível, dechavando alguma coisa, estudando, tentando aprender alguma coisa nova sozinho. Aprendi muito, mas como não tinha muita direção, não sabia muito o que ver.
Juntei uma grana e comprei alguns livros, até mesmo um que não pretendia usar, a bíblia do Visual Basic 6, pensei umas 3 vezes antes de comprar, porque não pretendia programar em VB, comparado ao Delphi, o VB parecia ser muito fraco, muito fácil. Investi muito mais em Delphi 4 e depois no 5 do que em VB. Meus projetos eram todos em Delphi, mas eu tinha um problema sério, meu computador muitas vezes não deixava eu rodar o Delphi, enquanto o VB rodava numa boa. Provavelmente aquilo acontecia por causa da versão pirata que eu tinha na época, era um pouco complicado ter um software original naquela época.
Era engraçado ficar todo o tempo "livre" me dedicando aos estudos de informática enquanto meus amigos saiam para beber, namorar e etc... Eu estava em um relacionamento, que infelizmente, estava meio complicado e beirando o fim. Então já não saia muito mesmo com meus companheiros, o tempo que não estava com ela, estava em casa estudando. Depois do término desse namoro, as coisas pioraram, porque aí comecei a varar diversas noites estudando, sempre que podia me dedicava, estava tentando criar um sistema, coisa de gente totalmente sem noção do que seria um sistema de fato, mas estava ali me matando para fazer aquilo acontecer.
No projeto do colégio, resolvi fazer um sistema para locadora de filmes, era apaixonado por filmes, assistia uns 20 filmes em 2 ou 3 dias, e achei que seria uma boa idéia desenvolver um sistema para locadoras. Comecei o projeto em Delphi 5, me arrisquei, não tive medo de tentar fazer acontecer mesmo sabendo que de um dia para o outro o Delphi poderia parar de funcionar em meu computador. Trabalhei arduamente durante 1 semana, mal tinha uma tela de clientes e filmes funcionando, mas estava ali, empenhado em fazer aquilo se realizar.
Um belo dia, "pau", o Delphi não rodava mais, nem sequer abria, pensei comigo: "Fodeu!", temendo o pior, fui até o coordenador e comentei o que ocorreu, perguntei se poderia mudar de linguagem, faltando apenas um dia para entrega do projeto, ele disse que sim, que era só eu arrumar as especificações no projeto, entregar novamente e levar o sistema no dia seguinte. Topei.
Sabia que não daria tempo para muita coisa, mas mesmo assim resolvi arriscar, melhor ficar com uma nota 3 do que um belo zero. Corri, usei toda minha experiência de digitador e juntei a pouca experiência de programador, fiz a tela de clientes, de filmes, comecei a fazer a tela para alugar os filmes, mas chegou o horário, o famoso prazo limite. Corri para o colégio, sentei ao computador, coloquei o fonte na máquina e rodou.
O coordenador sentou, olhou, perguntou "N" coisas, respondi que fazia isso, aquilo mas disse que o mais importante o sistema não fazia, não era possível alugar um filme. Ele me olhou com uma cara séria, comentou que tudo bem, entendeu. Pensei que não tiraria mais que 3 mesmo, por causa da mudança em cima da hora e porque não terminei a tempo. Na semana seguinte, fui conferir o boletim e vi que havia tirado 10 naquele projeto, me encontrei com ele e questionei, ele me explicou que pelo esforço empregado e pelo que tinha conseguido naquele curtíssimo prazo, ele achou que valeu muito mais do que muita coisa que vira. Fiquei feliz, muitíssimo feliz na época.
Esse mesmo coordenador chegou a cogitar um trabalho, trabalhar para ele, desenvolvendo um sistema, que agora não me lembro para que era, mas ele queria dois dos alunos para trabalharem com ele e chamou um camarada também, no final das contas, nem eu e nem meu camarada foram trabalhar com ele, mas por outro lado foi bom, vai saber como estaria minha vida hoje?
Hoje percebo que talvez tenha sido muito bom não ter ganho um computador mais cedo, vai saber se ainda teria interesse em informática? Talvez ficasse só brincando com ele e nem quisesse trabalhar com algo nesse ramo. E fico também muito feliz que tive todo um apoio de minha mãe e de minha ex-namorada, se não fosse por elas, acho que até hoje não seria nada na vida, não que eu seja muita coisa hoje.

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